quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Então, Fidel desistiu?!?

Um marco na história. Fidel renuncia.
Para alguns um ditador rigoroso, sem piedade.
Para outros um salvador, um líder que tinha como prioridade a saúde, educação a alimentação e a "justa" distribuição para seu povo.
Uma coisa me intriga nessa história toda. Fidel, o 'ditador' que governou por 49 anos, quepassou por diversas revoluções, se livrou de muitas ameaças, enfim, colocou sua vida em jogo para defender seus ideais socialistas, iria desistir do governo se não houvesse um bom motivo para isso?
Minha opinião pessoal, (se é que ela pode ser considerada válida), é que sua hora está realmente chegando. Fidel está lutando contra uma doença que ainda é alvo de especulações. Cancêr de cólon? Diverticulite? Crise Intestinal? Hérnia Intestinal?
Seja como for, fato é que Fidel deixou o poder uma única vez, para se tratar dessa misteriosa doença. O poder ficou nas maõs de seu irmão, Raúl Castro (que pode ser o novo presidente do país). Fidel regressou assim que se sentiu um pouco melhor. Mas agora se afasta mais uma vez, e em caráter definitivo.
O que será que o fez desistir? Será que Fidel está com seus dias contados? Fidel, que liderou Cuba por quase meio século abriria mão do poder se soubesse que um tratamento mais sério poderia curá-lo?
O próprio Fidel afirma em sua carta de renúncia: "Meu desejo sempre foi cumprir o dever até o último alento. É o que posso oferecer." . Ele ainda afirma : "Meu dever elementar não é aferrar-me a cargos, nem muito menos obstruir o passo a pessoas mais jovens, senão aportar experiências e idéias cujo modesto valor provem da época excepcional em que vivo". Creio que sua renúncia tenha um caráter "profético" no que diz respeito ao tempo de vida que ainda lhe resta.
Lendo uma matéria publicada no G1, escrita pelo correspondente Tiago Pariz , encontrei a seguinte afirmação: "Não sei se eles abrirão para a democracia. Fidel está afastado mas está vivo". A matéria foi escrita na época em que Fidel encontrava-se afastado para realizar a cirurgia intestinal. Mas eu arrisco falar de uma forma ainda mais ousada: Mesmo que Fidel venha a falecer, seu método de governar ainda prevalecerá sobre Cuba. Afinal, 49 anos não são 49 dias. A ideologia implantada por Fidel durante todo esse tempo está arraigada em cada cidadão cubano. Segundo a matéria em questão nem mesmo os próprios cubanos chegam ao um consenso sobre esse assunto. Alguns são a favor de Fidel, outros são contra. Alguns sentem alívio após sua renúncia, e outros não se manisfestam. A opção que encontram é não falar de política. Se para eles existem muitos pontos ruins no governo de Fidel, existem também pontos positivos. Se por um lado há o racionamento de comida, por outro há a preocupação com a educação para todos, com a saúde, com a moradia.
Uma da frases de Fidel tenta mostrar o seu lado 'benevolênte' - " Esta noite milhares de crianças dormirão nas ruas. Mas nenhuma delas é cubana." e fato é que Fidel também demonstra grande preocupação com as questões ambientais, como: poluição, desperdício de água, utilização irracional do petróleo, mudanças climáticas e aquecimento global. Não faço apologia ao modo de governo de Fidel. Apenas exponho os fatos que são divulgados pela própria mídia.
Lula defende Fidel, e diz que Cuba é madura o suficiente para decidir seu futuro político. Bush, e afins veêm na renúncia de Fidel uma abertura para a volta do capitalismo no país. Espanha espera que Cuba se torne um país mais democrático. Exílados cubanos nos EUA festajam a renúncia de Fidel.
E á nós? Resta assistir ao fim (ou ao começo) dessa história. Já que inevitavelmente fazemos parte dela.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Parece que nada mudou..

Faço questão de redigir o artigo escrito por José Roberto de Alencar (divulgado em 13 de abril, de 1990 no JB).

Através deste artigo ele mostra aos queridos "informantes" da imprensa (de sua época e por que não a atual), o que realmente importa: conteúdo transparente e de qualidade.

E eu vejo atravé disso, que, assim como a quase dezoito anos atrás, ainda estamos cansados das "encheções de linguinça" que encontramos por ai.
"Pobre Magri. Caiu na besteira de neologismar e caíram de pau nele. Quem pensa que é para falar difícil? Acaso julga o vernáculo tão mexível? Pior que é. Seu colega ministro, Bernardo Cabral, não se acanha de trocar confiança por confiabilidade ; deputados como José Genoino adotaram seu posicionamento, advogados como Otto Eduardo Lizeu Gil escrevem que o nosso opinamento ...; todo policial fala culpabilidade e viatura em vez de culpa e carro; médicos consideram estacionário o estado do infeliz paciente, assim reduzindo a motor diesel; e de faxineiros a executivos discutem - a nível de cidadãos - monetizações e titularidades. Sem o menor rubor.A imprensa se encarrega de publicar, de divulgar a baboseira. Mal pago, mas pago exatamente para traduzir as complicações e balelas obtusas, o jornalista deveria apresentar a chorumela em linguagem de gente. Clareza é dever de ofício em qualquer ofício, principalmente nos ofícios da palavra. Na impresa, até deixou de ser por uns tempo, quando a tal ditadura militar atiçou a censura nos jornais e foi preciso complicar o texto para engrupir censor burro na prosa enrolada. Falar difícil foi a solucionática. Dever mais alto se alevantava - o de levar informação ao leitor a qualquer custo - e à clareza restou o brejo.
Como na inesquecível firula do correspondente em Brasília, que passou a matriz paulista um telex: " Moço cai ao tropeçar nas estalares mangas de um quepe." Toureou o boi da linha e informou a queda do presidente do Banco Central, flagrado em ternas lides com a amada de um general. Também dos ásperos tempos vêm as implantações , as implementações e outros horrores. A obviedade apagou o óbvio. Broca e faca não mais furavam - perfuravam. A profundidade sepultou a velha fundura. E nos jornais, ninguém mais disse - todos os entrevistados passaram a alegar, comentar, explicar, pontificar, delimitar, frisar, disparar ou insinuar. Houve até quem obtemperasse. Veio a abertura foram-se os censores. Mas a herança da enrolação ficou. A mais famosa frase do mundo - to be or no to be - não tem, na maioria dos idiomas, uma única palavra com mais de três letras. Mas nesta marcha, em brever ser ou não ser vira existenciabilizar ou inexistenciabilizar.
Se se ganhasse por letra, estava explicado por que se xinga a miséria de miserabilidade (nem sinônimo é), o pão de complementação alimentar e os ônibus de veículos das empresas concessionários do transporte coletivo municipal. O inclusive usurpou o até. Para virou visando a com o objetivo de. O substantivo do verbo obstar (obstáculo) gerou um novo verbo: obstaculizar. De fato, está no dicionário. Mas a frescura entoja a conversa, complica a leitura e desanima o leitor. E o erro vem a cavalo. Como o do narrador de corridas Galvão Bueno, que confunde a posição com o posicionamento - ato de tomar posição. Ou do jornal paulista que para economizar greve estampou movimento de paralisação. Ou ainda o de empresários penalizados pelo pacote imexível. Confundem o apiedado, o condoído, com castigado, punido com uma pena. Pena dava , aliás, a Agência Nacional convocando brasileiros e brasileiras para o pronunciamento do presidente Sarney: um acadêmico de fardão e pose devia saber que quem faz pronunciamento é canhão. Já nem tem mais graça um cartola corintiano como Vicente Matheus considerar indevível, introcável e imprestável o jogador Socrátes. Agora deita-se gozação em cima do Magri, inventor de uma palavra muito melhor do que intocável para traduzir seu zelo pelo pacote de Zélia. Pelo autoritarismo, por defender a imexibilidade do pacote, o Rambo nativo merece pau levado. Mas quem se atém ao imexível ataca pela beirada, erra a cacetada. Igualmente grave (além de não lhe fazer o gênero) seria Magri rotular o pacote intangível, invulnerável, inatacável. Pois grave é a essência da fala, o autoritarismo do Maciste, a prepotência do conceito. Esta acabou perdoada - perdão - perdoabilizada."
Roberto, sou sua fã!
Vocé pode encontrar esse e outros artigos do José Roberto de Alencar em seu livro: