quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Parece que nada mudou..

Faço questão de redigir o artigo escrito por José Roberto de Alencar (divulgado em 13 de abril, de 1990 no JB).

Através deste artigo ele mostra aos queridos "informantes" da imprensa (de sua época e por que não a atual), o que realmente importa: conteúdo transparente e de qualidade.

E eu vejo atravé disso, que, assim como a quase dezoito anos atrás, ainda estamos cansados das "encheções de linguinça" que encontramos por ai.
"Pobre Magri. Caiu na besteira de neologismar e caíram de pau nele. Quem pensa que é para falar difícil? Acaso julga o vernáculo tão mexível? Pior que é. Seu colega ministro, Bernardo Cabral, não se acanha de trocar confiança por confiabilidade ; deputados como José Genoino adotaram seu posicionamento, advogados como Otto Eduardo Lizeu Gil escrevem que o nosso opinamento ...; todo policial fala culpabilidade e viatura em vez de culpa e carro; médicos consideram estacionário o estado do infeliz paciente, assim reduzindo a motor diesel; e de faxineiros a executivos discutem - a nível de cidadãos - monetizações e titularidades. Sem o menor rubor.A imprensa se encarrega de publicar, de divulgar a baboseira. Mal pago, mas pago exatamente para traduzir as complicações e balelas obtusas, o jornalista deveria apresentar a chorumela em linguagem de gente. Clareza é dever de ofício em qualquer ofício, principalmente nos ofícios da palavra. Na impresa, até deixou de ser por uns tempo, quando a tal ditadura militar atiçou a censura nos jornais e foi preciso complicar o texto para engrupir censor burro na prosa enrolada. Falar difícil foi a solucionática. Dever mais alto se alevantava - o de levar informação ao leitor a qualquer custo - e à clareza restou o brejo.
Como na inesquecível firula do correspondente em Brasília, que passou a matriz paulista um telex: " Moço cai ao tropeçar nas estalares mangas de um quepe." Toureou o boi da linha e informou a queda do presidente do Banco Central, flagrado em ternas lides com a amada de um general. Também dos ásperos tempos vêm as implantações , as implementações e outros horrores. A obviedade apagou o óbvio. Broca e faca não mais furavam - perfuravam. A profundidade sepultou a velha fundura. E nos jornais, ninguém mais disse - todos os entrevistados passaram a alegar, comentar, explicar, pontificar, delimitar, frisar, disparar ou insinuar. Houve até quem obtemperasse. Veio a abertura foram-se os censores. Mas a herança da enrolação ficou. A mais famosa frase do mundo - to be or no to be - não tem, na maioria dos idiomas, uma única palavra com mais de três letras. Mas nesta marcha, em brever ser ou não ser vira existenciabilizar ou inexistenciabilizar.
Se se ganhasse por letra, estava explicado por que se xinga a miséria de miserabilidade (nem sinônimo é), o pão de complementação alimentar e os ônibus de veículos das empresas concessionários do transporte coletivo municipal. O inclusive usurpou o até. Para virou visando a com o objetivo de. O substantivo do verbo obstar (obstáculo) gerou um novo verbo: obstaculizar. De fato, está no dicionário. Mas a frescura entoja a conversa, complica a leitura e desanima o leitor. E o erro vem a cavalo. Como o do narrador de corridas Galvão Bueno, que confunde a posição com o posicionamento - ato de tomar posição. Ou do jornal paulista que para economizar greve estampou movimento de paralisação. Ou ainda o de empresários penalizados pelo pacote imexível. Confundem o apiedado, o condoído, com castigado, punido com uma pena. Pena dava , aliás, a Agência Nacional convocando brasileiros e brasileiras para o pronunciamento do presidente Sarney: um acadêmico de fardão e pose devia saber que quem faz pronunciamento é canhão. Já nem tem mais graça um cartola corintiano como Vicente Matheus considerar indevível, introcável e imprestável o jogador Socrátes. Agora deita-se gozação em cima do Magri, inventor de uma palavra muito melhor do que intocável para traduzir seu zelo pelo pacote de Zélia. Pelo autoritarismo, por defender a imexibilidade do pacote, o Rambo nativo merece pau levado. Mas quem se atém ao imexível ataca pela beirada, erra a cacetada. Igualmente grave (além de não lhe fazer o gênero) seria Magri rotular o pacote intangível, invulnerável, inatacável. Pois grave é a essência da fala, o autoritarismo do Maciste, a prepotência do conceito. Esta acabou perdoada - perdão - perdoabilizada."
Roberto, sou sua fã!
Vocé pode encontrar esse e outros artigos do José Roberto de Alencar em seu livro:

Um comentário:

Anônimo disse...

O "conflito" na América do Sul vai muito mais além do que a invasão do território equatoriano pela Colômbia, e em consequência disso as ações colombianas...
Existem questões antigas como bases militares americanas no Equador e na Colômbia. Existem lugares estratégicos importantes em jogo, como a Amazônia. Existe uma história, mais antiga, que envolve o Plano Colômbia... E a mídia parece se esquecer disso. Outra coisa que não foi comentado é que se a Colômbia "invadiu" o equador para matar o número 2 das FARC, foi porque , primeiro as FARC invadiram o Equador. Medidas precisam sim ser tomadas, mas de maneira sensata e não por simples vontade americana.