quinta-feira, 19 de março de 2009

Uma verdadeira aula de jornalismo esportivo

Era terça-feira, 17 de março. A caminho da faculdade, poderia parecer até um dia normal. Mas não era. Não para mim, porque eu sabia que o Willy Gonser, da rádio Itatiaia - aquele que faz o coração de todo torcedor atleticano disparar, sofrer, se emocionar e vibrar de emoção - estaria na PUC para falar sobre radiojornalismo. Pois cheguei ao local com 30 minutos de antecedência e fiquei esperando ansiosamente o inicio da palestra.

Willy chegou e foi aplaudido. Simpático e muito bem humorado, aguardou pacientemente a chegada dos demais convidados e a exibição de um documentário - muito bacana por sinal – elaborado pelos ex-alunos da faculdade: Cristiano Martins, David Luís Prado, Emerson Campos, Gustavo Faleiro e Wanderson Lima, juntamente com um dos convidados, o Marcelo Machado. Trata-se de uma mostra do dia-a-dia nas rádios e nas transmissões ao vivo, com depoimentos de grandes personalidades do meio – inclusive com depoimento do próprio Willy Gonser. O vídeo foi tema de um projeto experimental apresentado à banca no final do curso.

Aos poucos, os demais convidados foram chegando. Eram eles: o assessor de Comunicação Social da Ademg, Rogério Bertho, o comentarista das rádios Globo, CBN Minas e dos canais Sportv e PFC, Leonardo Figueiredo e o Repórter da Rádio Inconfidência, Marcelo Machado, como já citado.

Foi fantástico, porque como o próprio Willy Gonser fez questão de afirmar, aquele encontro não tinha o formato de uma palestra, mas sim de um bate papo: “Conversar sobre futebol é sempre uma coisa boa”, afirmou. Sabe aqueles programas televisivos, pós-jogos que têm uma mesa cheia de comentaristas, discutindo sobre a partida de futebol? Aqueles que assistimos, sentados no sofá, dando pitacos, como se eles [os comentaristas] estivessem nos ouvindo? Então, era isso! E dessa vez eu estava lá de verdade! Eu e dezenas de colegas que lotaram a Multimeios (sala de apresentações e palestras da PUC), fazendo diversas perguntas e até mesmo comentando sobre alguns assuntos, interagindo com os convidados.

Muitas coisas bacanas foram ditas ali. Sobre a imparcialidade na transmissão de partidas de futebol, por exemplo, Willy afirmou que não acha que ela [a imparcialidade] seja assim tão necessária. Ele disse que os ouvintes sabem quando o locutor está falando em tom de brincadeira ou não. Para ele o importante é ser profissional: “Não acho que devo ser imparcial. Posso ser parcial porque a credibilidade conquistada me dá o álibi para isso. Quando é momento de analisar lances, o profissionalismo fala mais alto e o ouvinte com certeza sabe discernir esses momentos. Mas, cá pra nós, um cara como eu, que está no rádio há 54 anos não pode responder simplesmente que não torce para ninguém! Isso seria hipocrisia!”, disse. O locutor declarou também, que possui três times do coração: Grêmio, Atlético Mineiro e, claro, a Seleção brasileira. Dentre os vários assuntos que foram surgindo ao longo do evento, destaco alguns:

Sobre a proibição da venda de bebidas alcoólicas no Mineirão – Willy e Leonardo são contra, porque acham que o torcedor que está de folga e quer ter um momento de lazer com a família, é penalizado por culpa de outros que às vezes nem são torcedores. O locutor acha que a maioria dos casos de violência, que acontecem em partidas de futebol, ocorrem fora do estádio, o que não justifica essa proibição. Para Leonardo, a violência deve ser tratada como caso de segurança pública, sem que para isso pessoas de bem sejam penalizadas. Ele acha que a proibição faz com que torcedores deixem de freqüentar os estádios para assistir os jogos em suas casas. Rogério, da Ademg, por sua vez, defende a medida adotada porque segundo ele, dados estatísticos comprovaram que esta contribuiu para a diminuição de casos de violência nos estádios.

Sobre a volta de Ronaldo – Todos se mostraram contentes e torcedores do fenômeno. Willy Gonser em particular, mostra que tem muita afinidade com o jogador, afirmando inclusive, que seu retorno à seleção brasileira pode ser cogitado.

Sobre a influência das mulheres no esporte - Todos concordaram que o crescimento dessa influência é fato. Mas, todos concordaram também que isso só é possível desde que a mulher entenda muito bem de futebol. Em algumas situações, eles presenciaram cenas pouco agradáveis com algumas delas. O Rogério contou o caso de uma ex colega que, ao ser chamada pelo locutor - que lhe perguntou sobre o movimento no campo de futebol -, disse: “Bem, do lado direito temos o Cruzeiro... com a camisa azul... E, do lado esquerdo, o Atlético... com a camisa branca de listras pretas...” (será que isso é verdade mesmo?)

Sobre a entrada do jovem no jornalismo esportivo: O Marcelo Machado deu um banho de ânimo nos futuros jornalistas que o assistiam. O banho de ânimo ao qual me refiro se dá pelo fato de que o mercado de trabalho para jornalistas já está bem saturado. Isto é uma realidade tanto para os profissionais quanto para os estudantes. Apesar de jovem, ele já está inserido no mercado, o que por si só já é motivo para despertar esperanças. Além disso, ele afirmou com convicção: “Quem pretende ser jornalista esportivo tem que tentar e ir até o fim. Porque tem chances de conseguir sim”. Mas fez ressalvas: “É necessário mais que um curso de jornalismo e disposição. É preciso também – e principalmente – conhecer muito sobre futebol e ser completamente apaixonado pelo tema” contou.

Casos inusitados que acontecem durante as transmissões: Esse foi um momento de muitas risadas. Mas o que mais me fez rir, foi o episódio contado pelo jornalista Leonardo Figueiredo. (desculpa Leonardo, mas vou ter que contar isso aqui... rs).

Ele disse que assim que entrou na Itatiaia, foi cobrir um clássico no Mineirão. Estava escalado como repórter volante e estava bem nervoso. Porém, não contava com uma dor de barriga repentina que o atacou minutos antes do jogo. Aflito, ele entrou no vestiário (acho que do Atlético) a fim de achar um banheiro. Ficou procurando pelo estádio – que ainda não conhecia muito bem – até que enfim, conseguiu encontrar . Para chegar até lá, o jornalista passou por entre os jogadores que estavam se preparando para entrar em campo. “Com o microfone da Itatiaia você consegue entrar em qualquer lugar”, comentou Leonardo. Foi então que – já acomodado – tentou ligar para seus colegas na rádio, avisando que não poderia atender, caso o Willy o chamasse. Por azar, ninguém atendeu suas ligações. E, o Willy Gonser o chamou: “Vamos falar com o repórter Leonardo Figueiredo... e aí Leonardo, diga-nos onde você está?”. Segundo ele, a única coisa que passou por sua cabeça, foi dizer que estava passeando no vestiário, observando a preparação dos jogadores. Leonardo disse que, assim que saiu do banheiro, os jogadores estavam o esperando na porta, porque tinham ouvido sua conversa ao telefone...

Este foi apenas um dos casos engraçados que ouvimos, mas não dá para escrever todos aqui. Olha o tamanho deste post!

Só posso dizer que tudo que foi dito ali – até mesmo as histórias inusitadas - foi uma verdadeira aula de jornalismo e profissionalismo para todos os presentes. No final do bate pap’ eu pedi ao Willy Gonser que narrasse um trechinho de uma partida para que pudéssemos desfrutar da sua voz, ali, ao vivo. Mas ele não quis. Fiquei um pouco triste, mas depois entendi. Em meio a atleticanos e cruzeirenses, narrar um gol do Tardelli não seria bom para sua imagem. Mas que seria bom ouvi-lo narrando um gol do Tardelli, ah.. isso seria!

O Leonardo finalizou suas considerações dizendo que jornalistas não devem ser tratados como celebridades. Que ele me desculpe, mas, apesar de concordar com sua opinião, faço do Willy uma exceção. Sou fã de carteirinha dele e, apesar de não estar direcionada para a área de jornalismo esportivo, sempre terei o Willy Gonser como um exemplo e como uma referência na minha futura carreira.

Antes que eu me esqueça: o evento foi realizado pelo DA de Comunicação da PUC Minas São Gabriel. Uma iniciativa exemplar, que deve ser continuada por servir de suporte a todos os estudantes. Eles merecem nossos aplausos!

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom amor! Realmente a palestra, que mais pareceu um bate-papo, foi muito interessante e importante pra nós futuros jornalistas. E vc soube muito bem retratar o que de melhor aconteceu nesse encontro de "bambas" do esporte...rs!

Círio Oliveira disse...

A história mais bacana foi a do Jogo do Galo e Torino em Turim. Narrado pelo telefone e sem ver o jogo. KKK
O Abras falava o que acontecia e o Willy narrava, muito bom.

Muito bom msm!