sexta-feira, 7 de março de 2008

Células-tronco embrionárias


Em que consiste a pesquisa:

As últimas pesquisas científicas comprovam que o zigoto (célula mais primitiva de um embrião) possui informação suficiente para que as demais células que serão produzidas (a partir dele) sofram uma diferenciação capaz de promover diferentes linhagens, e consequentemente, diferentes tecidos (muscular, ósseo, nervoso, etc.). Sendo assim, a esperança dos cientistas que defendem as pesquisas com essas células, é de que a partir de estudos mais aprofundados das células-tronco embrionárias, será possível descobrir formas de utilização para fabricação de “novos tecidos” para transplantes e eventualmente, órgãos inteiros.

Opinião favorável x Opinião desfavorável:

Muita polêmica – é o que se tem gerado no debate sobre a possibilidade da liberação de pesquisas científicas com células-tronco embrionárias. Os favoráveis à liberação dessas pesquisas, afirmam que os estudos com essas células trarão grandes chances de cura às doenças degenerativas, (como por exemplo, a distrofia muscular) e poderá beneficiar milhões de pessoas em todo o mundo. Já os desfavoráveis a liberação das pesquisas com células-tronco embrionárias afirmam que o estudo destas, consiste em um desrespeito a vida humana, que para eles, é considerada ‘vida’ a partir do momento da fecundação.

Porque deve ser liberado?

Entre os possíveis benefícios citados acima e defendidos por aqueles que aprovam o uso dessas células nas pesquisas, destaca-se também a questão do avanço científico que essa liberação proporcionará ao Brasil. Em entrevista ao site G1 o pesquisador Stevens Rehen, aponta oito “bons motivos” para que essas pesquisas sejam liberadas:

  1. As células-tronco embrionárias são o tipo celular de maior potencial terapêutico descoberto até hoje;
  2. A obtenção de células semelhantes às embrionárias a partir de tecidos adultos depende justamente da possibilidade de se trabalhar com as células-tronco embrionárias genuínas;
  3. Proibir pesquisas com células-tronco embrionárias humanas tornará o Brasil dependente dos países onde esses estudos são realizados;
  4. A Lei de Biossegurança estabelece que somente embriões considerados inviáveis ou congelados há mais de três anos sejam utilizados em pesquisas;
  5. Pesquisas com células-tronco adultas não substituem pesquisas com células-tronco embrionárias;
  6. Células-tronco embrionárias de outros mamíferos não substituem as células-tronco humanas;
  7. O estabelecimento de novos tratamentos com células-tronco, sejam adultas ou embrionárias,não tem data marcada;
  8. O momento em que começa a vida humana não possui um marco científico definitivo.

Para ele, há pelo menos sete formas científicas de definir o começo da vida. Uma delas sugere que o início da vida humana ocorre pela formação do sistema nervoso, a partir do 14o dia após a fecundação. Tem referência na definição legal para a morte - baseada na interrupção de funcionamento do cérebro - e que possibilita a realização de transplantes de órgãos.

Porque não deve ser liberado?

Já Alice Teixeira Ferreira e Dalton Luiz De Paula Ramoss, profissionais que trabalham no ramo da Biofísica e Ciência, também responsáveis pelo Manifesto Comunista (manifesto contra a utilização de embriões humanos) afirmam que: “ Deve ser promovida a proteção dos embriões humanos que sobram nos processos de fecundação assistida. O erro cometido por ocasião da produção e do armazenamento dos embriões não justifica, agora, um outro erro: a utilização desse embriões em pesquisas, reduzindo-os ao status de coisas ou objetos e conseqüentemente negando seu significado ontológico, ainda mais quando essas mesmas pesquisas podem se realizar com o uso de células-tronco adultas”.

José Roberto Goldim, também faz questionamentos éticos, que levam a reflexão sobre a liberação dessas pesquisas:

  • É adequado utilizar embriões produzidos para fins reprodutivos e não utilizados, cujos prazos legais de utilização foram ultrapassados, para gerar células tronco embrionárias ?
  • É aceitável produzir embriões humanos sem finalidade reprodutiva apenas para produzir células-tronco?
  • A justificativa da necessidade de desenvolver novas terapêuticas está acima da vida dos embriões produzidos para este fim?
  • Por que não incentivar as pesquisas utilizando células-tronco obtidas de outras formas, que também tem demonstrado bom potencial?
  • É aceitável a utilização de óvulos não humanos para servirem substrato biológico para pesquisas em células tronco humanas, desconhecendo-se os riscos envolvidos neste tipo de procedimento?
  • É justo criar um clima de expectativa para pacientes e familiares de pacientes sobre a possibilidade de uso terapêutico de células que sequer foram testadas em experimentos básicos?

Opinião

Por se tratar de um assunto muito delicado e polêmico, ainda não tenho opinião formada sobre tal assunto. Ao mesmo tempo em que anseio defender a causa, sinto-me constrangida por razões que minha própria consciência apresenta. Os cientistas afirmam existir pelo menos sete formas que “podem originar a vida”. Mas qual delas realmente é a vida em si? E quem pode garantir tal afirmação? Onde afinal está a verdade? Onde está o poder de privar pessoas de serem curadas de doenças tão graves? Onde está o poder de utilizar-se de possíveis vidas para curar estas pessoas? Mas caso essas experiências sejam liberadas, até onde a ambição humana poderá chegar? No entanto, se não for o Brasil, será outro país. Perderemos essa oportunidade? Será que vale a pena carregar esse “marco histórico” pra nós?

Eu sei. Isso aqui mais parece um debate filosófico, onde as perguntas são jogadas ao ar, sem nenhuma verdade exclusiva, do que uma matéria sobre células-tronco embrionárias. Mas cada um tem a sua verdade. E a sua verdade? Qual é?

Fontes pesquisadas:

Um comentário:

Luana Borges disse...

Manobra política X Ética

Se por um lado José Roberto Goldim, aponta lados éticos (discutíveis), ele não fala em nenhuma outra solução tão eficiente como a clonagem para a recuperação de tecidos degenerados. Além disso a Lei de Biosegurança já foi aprovada no congresso, e embargada pelo próprio Goldim. A questão é, será que o que está em discussão aqui é mesmo a ética? Ou será que é uma briga de caciques para agradar (ou não) a bancada religiosa?
Já a afirmativa de Alice Teixeira Ferreira e Dalton Luiz De Paula Ramoss, sobre o significado e/ ou função ontológica de um embrião, é um tanto quanto estranha. Ora, a função dos cientistas não é pesquisar sobre as possibilidades de se trabalhar com novas formas, novos padrões e novas técnicas para um bem comum? Então apegar-se a significados ou “funções ontológicas” trás novas descobertas? Novamente entraria aí um jogo político muito mais forte que uma questão ética.